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sábado, 17 de dezembro de 2011

Joãosinho Trinta morre aos 78 anos

De O Globo:



Rio – O carnavalesco João Clemente Jorge Trinta, conhecido como Joãosinho Trinta, de 78 anos, morreu às 9h55m da manhã deste sábado. Ele estava internado em estado grave e respirava com ajuda de aparelhos no Hospital UDI, em São Luís. O hospital informou que as causas da morte foram choque séptico, pneumonia e infecção urinária.



“Sou a última pessoa que esteve com ele. O aparelho dele parou de funcionar. Apertou a minha mão e se foi. Estava no quarto com ele faz cinco minutos”, afirmou Arley Mack, cuidador do carnavalesco. Segundo o assessor de imprensa de Joãosinho, o sepultamento deve ocorrer às 10h da segunda-feira. O corpo será velado em São Luís.



Joãosinho foi internado na unidade no dia 3 de dezembro com pneumonia. Ele apresentava quadro de obstrução intestinal. O carnavalesco sofreu o primeiro AVC em 1996, tendo sido tratado na Rede Sarah em Brasília. O segundo acidente vascular cerebral ocorreu em 2004. Novamente, foi internado no Sarah em março de 2005, com dificuldades de fala e limitações de movimento nos dois lados do corpo. Mais uma vez se recuperou a ponto de participar do último carnaval no Rio de Janeiro.







Em março deste ano, voltou ao Sarah para dar continuidade ao programa de reabilitação e recebeu alta em 9 de junho. Um mês depois, no dia 11 de julho, sofreu convulsões e foi hospitalizado no Rio. O quadro agravou-se e ele passou a respirar com auxílio de máquinas e foi submetido a traqueostomia. Em 31 de julho foi transferido para o Sarah, em Brasília, quando se comunicava por gestos e articulava palavras, mas sem emitir sons. A alimentação era feita por sonda nasoenteral (pelo nariz).



Joãosinho fez grandes transformações no carnaval



“Eu não mexi nas raízes, apenas arrumei vasos mais bonitos para elas.” Assim o carnavalesco respondeu às críticas de que teria descaracterizado os desfiles das escolas de samba. Era o gênio reconhecendo que, se não descaracterizou, foi o responsável por grandes transformações no carnaval. Importância que lhe rendeu, em 1986, o prêmio especial do Estandarte de Ouro, concedido apenas outras duas vezes: em 1973, como homenagem póstuma, ao compositor do Império Serrano Silas de Oliveira; e em 1985, ao carnavalesco da Mocidade Independente Fernando Pinto.



No ano em que foi premiado, embora a Beija-Flor de Joãosinho, com o enredo “O mundo é uma bola”, tenha desfilado debaixo de um temporal que alagou a Sapucaí, conseguiu o vice-campeonato. Muito antes, porém, desde a década de 70, primeiro no Salgueiro e depois na Beija-Flor, ele já vinha sendo protagonista de momentos memoráveis do carnaval, promovendo revoluções que prevalecem até hoje.



Para a fúria dos mais tradicionalistas, pôs componentes em cima de carros alegóricos, aumentou a escala das fantasias e das alegorias para preencher todos os espaços da avenida e, com materiais às vezes simples, levou o luxo extremo às agremiações. Motivos de críticas as quais ele rebateu com uma de suas declarações mais conhecidas e polêmicas:



— O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual.



Era apenas o prenúncio de um dos mais surpreendentes e ousados desfiles da folia carioca, considerado por muitos o mais importante deles: o “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”, de 1989, quando a Beija-Flor entrou na avenida com mendigos de verdade, contrastando o luxo com a estética da pobreza nas ruas.



Já na década de 90, nem os problemas de saúde frearam sua criatividade e sua verve. Foi em 1997 o último título do carnavalesco no Rio, quando elevou a Unidos do Viradouro ao rol das campeãs (assim como fez com a Beija-Flor em 1976). O enredo era “Trevas! Luz! A explosão do universo”, que arrebatou a Sapucaí ao carnavalizar a teoria do big-bang de criação do mundo.



Enredos que subvertiam tudo que se imaginava antes sobre carnaval, aliás, foram uma das grandes contribuições de Joãosinho Trinta. Em seus oito campeonatos no grupo principal do carnaval, fantasia e deslumbre se juntaram em temas como “O Rei da França na Ilha da Assombração”, no Salgueiro, em 1974, ou “Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana”, na Beija-Flor, em 1977. Ilusões carnavalescas que podiam, perfeitamente, integrar um dos lemas mais repetidos do maranhense Joãosinho, atualmente morando em Brasília: o de que o Brasil podia fazer uma revolução pela alegria.



(Com informações do G!).

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