Difícil achar um adjetivo para qualificar o que Santos e Flamengo  fizeram nesta quarta-feira à noite, na Vila Belmiro, pela 12ª rodada do  Brasileirão. Um show, um concerto, um espetáculo? É pouco. Foi, enfim,  um jogo histórico, que será lembrado por muito tempo. No fim, o  Flamengo, de Ronaldinho Gaúcho, que saiu perdendo por 3 a 0, acabou  levando a melhor sobre o Santos, num 5 a 4 de encher os olhos, para  apagar da memória dos torcedores brasileiros o burocrático futebol  apresentado pela Seleção Brasileira na Copa América. O craque  rubro-negro, enfim, mostrou a que veio quando retornou ao Brasil. Foi  genial, como há muito tempo não era, marcando três gols, chegando a  oito, artilheiro da competição. Neymar também brilhou, com dribles  desconcertantes e dois gols, o primeiro antológico.
Ninguém tinha dúvidas de que seria um grande jogo, mas acabou saindo  melhor, bem melhor mesmo, do que a encomenda. Craques dos dois lados,  jogadas de efeito e muitos gols - um deles, de Neymar, uma obra de arte.  Foram seis tentos apenas no primeiro tempo. As duas zagas sofreram  muito e falharam demais também. Bom para o espetáculo, que começou com o  Santos como protagonista.
Tocando fácil, de primeira, Ganso, Elano e Ibson se achavam em campo. E  todos encontravam Borges. Elano, principalmente. Num lançamento  primoroso, logo nos movimentos iniciais da partida, o meia largou o  camisa 9 na cara de Felipe. Com extrema tranquilidade, o parceiro de  Neymar deu um leve toque, o suficiente para tirar a bola do alcance do  goleiro rubro-negro.
| Ronaldinho Gaúcho faz a festa na Vila Belmiro (Foto: Eliaria Andrade / Ag. O Globo) | 
O Fla até tinha a bola e explorava bem o lado esquerdo da defesa  alvinegra, com Luiz Antônio aproveitando-se dos espaços às costas de  Léo. Mas o Peixe era mais incisivo. Borges ampliou, completando jogada  individual de Neymar, que, deitado no chão, conseguiu acertar o passe  para o companheiro.
O time rubro-negro parecia entregue. E Neymar, inspirado. A goleada  estava desenhada e com um toque de gênio. Aos 26, o craque santista  arrancou pelo meio, jogou para Borges, que escorou e devolveu. Num  drible improvável, o camisa 11 passou por Welinton, Angelim e ficou na  frente de Felipe. O toque final foi leve, por baixo do goleiro. A Vila  Belmiro aplaudiu de pé.
A festa alvinegra estava armada. Cabia muito mais. Aliás, houve muito  mais. Só que, agora, por parte do Flamengo. O jogo mudou de lado. O  Rubro-Negro não se intimidou com a vantagem adversária e continuou indo  para cima. Marcou dois gols rápidos, com Ronaldinho e Thiago Neves e  pressionou o Santos, que apresentava muitas falhas defensivas. Lembrou o  time de 2010, que dava sustos na mesma medida em que marcava gols.
Foi aí que apareceu o vilão da noite. Neymar, endiabrado, invadiu a  área pela esquerda e caiu. O árbitro marcou pênalti de Willians. Uma  marcação duvidosa. Borges pegou a bola para bater, mas Elano assumiu a  bronca. Queria se redimir do vexame da Copa América, quando, na decisão  por penalidades nas quartas de final, contra o Paraguai, ele mandou uma  bola na estratosfera, muito acima da meta. Em momentos difíceis, abusar  não costuma ser prudente. Uma cavadinha displicente. A bola, leve,  tranquila, morreu nos braços de Felipe, que ainda teve tempo de  'descontar' a ousadia do santista ao fazer embaixadinhas antes de repor a  bola em jogo.
A Vila caiu em vaias na cabeça de Elano, que chegou a fazer sinais para  os alvinegros descontentes. Para piorar a situação do meia santista,  Deivid, escorando cobrança de escanteio, empatou a partida. O Flamengo  estava vivo; o Santos, adormecido. Elano, em maus lençóis.
O segundo tempo foi tão eletrizante quanto o primeiro. O Fla foi  melhor, teve mais a bola. Chegou, inclusive, a encurrralar o Peixe. O  sistema defensivo santista falhava na marcação. Ronaldinho e Thiago  Neves tinham muito espaço para trocar passes. Os alvinegros, mal  posicionados, corriam atrás. Neymar, porém, fazia a diferença. Puxando  contra-ataques, ele tirou o Peixe do sufoco logo após o início do  segundo tempo, arrancando pela esquerda e dando um toque inspirado para  matar Felipe.
Mas Neymar não era o único protagonista do jogaço. Ronaldinho Gaúcho  mostrou que o craque pensa à frente, surpreende, improvisa. Falta na  entrada da área, pelo lado direito. Rafael armou a barreira e se  posicionou no lado direito. Todos esperavam a batida por cima da  barreira. Esperto, o camisa 10 tocou rasteiro. A bola passou por baixo e  enganou o goleiro santista. 4 a 4!
A Vila Belmiro não respirava. Privilegiadas, as quase 13 mil  testemunhas do jogo do ano no Brasil não desgrudavam os olhos do  gramado. Qualquer piscada e se perderia um drible de Neymar, um toque  refinado de Ronaldinho.
Neymar driblava, chutava, só sofria mesmo com a marcação de Willians. O  jeito era fazer a bola não chegar ao astro santista. Foi isso o que o  Flamengo fez quando roubou a bola no meio de campo - num erro de Ganso.  Um contra-ataque mortal, com Ronaldinho arrancando pela esquerda,  invadindo a área e definindo o placar.
Uma salva de palmas para o futebol.
G1.com
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